Resenha:
Pachinko (Min
Jin Lee)
Introdução
Pachinko é uma daquelas leituras que permanecem com o leitor por muito tempo após a última página. Escrito pela autora coreano-americana Min Jin Lee, o romance foi finalista do National Book Award e é amplamente aclamado como uma das mais importantes obras da literatura contemporânea sobre identidade, imigração e pertencimento. Ambientado entre a Coreia e o Japão, o livro atravessa quase um século de história, acompanhando quatro gerações de uma família coreana que luta por dignidade e sobrevivência em um país que nunca os aceita por completo.
Com uma escrita envolvente e profundamente sensível, Lee oferece uma narrativa grandiosa, mas extremamente íntima, mostrando que grandes eventos históricos sempre se manifestam nas vidas dos pequenos — nos afetos, nos gestos cotidianos, nas escolhas difíceis.
Enredo
Pachinko começa no início do século XX, em uma pequena vila na Coreia sob domínio japonês. Lá conhecemos Sunja, filha de um pescador, cuja vida muda drasticamente ao se envolver com um homem misterioso. As consequências desse relacionamento colocam Sunja em uma jornada de migração, resistência e reconstrução. Ao longo do tempo, vemos sua família se estabelecer em Osaka, no Japão, onde os coreanos são marginalizados, discriminados e relegados a posições sociais inferiores.
Apesar das adversidades, a família persevera, e a narrativa acompanha filhos e netos de Sunja, revelando como as marcas da guerra, do exílio e do preconceito moldam cada nova geração. O título do livro faz referência às casas de pachinko — jogos de azar muito populares no Japão — onde muitos coreanos encontram sustento, apesar do estigma social.
Análise crítica
O que mais impressiona em Pachinko é a habilidade de Min Jin Lee de transformar uma narrativa familiar em um épico silencioso. Sua prosa é clara, fluida e sem exageros estilísticos, mas carrega uma carga emocional poderosa. Ao evitar o melodrama, Lee permite que os dramas falem por si mesmos — o que os torna ainda mais devastadores.
Os temas são múltiplos e profundamente humanos: identidade, pertencimento, lealdade, sacrifício e resiliência. A condição dos coreanos no Japão é retratada com precisão histórica e sensibilidade, e o preconceito institucionalizado, que atravessa décadas, mostra como a luta por dignidade é longa e desigual. A religião, o papel da mulher, as escolhas morais e o peso da herança familiar também são explorados com maturidade e equilíbrio.
Os personagens são complexos, falhos e reais. Sunja, em especial, é inesquecível — símbolo de força silenciosa e amor incondicional. Mas mesmo os coadjuvantes têm profundidade, cada um com suas contradições e sonhos próprios. Pachinko é, acima de tudo, um romance sobre pessoas tentando viver com dignidade num mundo que frequentemente lhes nega essa possibilidade.
Conclusão
Pachinko é um romance belíssimo e comovente, que combina o escopo da história com a delicadeza dos detalhes íntimos. Min Jin Lee constrói um retrato vívido de uma família que, apesar de todas as perdas e dores, nunca deixa de lutar. É uma leitura intensa, que exige entrega, mas que recompensa com uma narrativa rica, empática e cheia de humanidade.
Recomendo para todos que se interessam por histórias sobre imigração, identidade e pertencimento, e para quem aprecia romances históricos bem construídos e com personagens inesquecíveis. Pachinko não é apenas um livro — é uma experiência literária profunda que nos lembra da força silenciosa dos que seguem em frente, mesmo quando o mundo insiste em empurrá-los para trás.