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15/06/2025

Resenha e mais: O Caso Morel (Rubem Fonseca)



O Caso Morel, de Rubem Fonseca: resenha, estilo e por que você precisa ler


O Caso Morel
 não é apenas um romance policial. É uma imersão na mente de um artista, de um homem em conflito com o mundo e com sua própria identidade. Publicado em 1973, esse livro marcou a entrada de Rubem Fonseca no romance de forma impactante, consolidando sua reputação como um dos grandes mestres da literatura brasileira contemporânea.

Um policial psicológico e provocador

Morel é pintor, excêntrico, e está no centro de uma investigação sobre um assassinato. A trama é construída com engenhosidade: através de relatos indiretos, entrevistas e fragmentos de documentos, o leitor é chamado a montar o quebra-cabeça. A leitura exige atenção, mas recompensa com uma narrativa instigante e carregada de tensão.

Rubem Fonseca: o escritor da cidade e do silêncio

Antes de se tornar romancista, Fonseca já era conhecido por seus contos densos e urbanos. Em O Caso Morel, ele transporta esse estilo direto, quase seco, para uma narrativa mais longa, mas sem perder o ritmo. Os diálogos são cortantes, os cenários têm cheiro de concreto e as questões éticas pairam sobre cada página.

Temas: arte, violência e identidade

O livro vai além do mistério. Fonseca constrói um personagem que questiona a arte, o papel do artista e os limites entre loucura e genialidade. Também explora a violência — não a física, mas a simbólica e social — presente nas instituições, nas relações humanas e no próprio processo criativo.


Por que ler O Caso Morel hoje?

Mais de 50 anos após seu lançamento, o livro continua atual. Em tempos de debates sobre ética, identidade e manipulação da informação, a estrutura fragmentada e a ambiguidade de Morel ganham novas camadas. É uma leitura desafiadora, mas profundamente recompensadora.


Para quem é este livro?

  • Leitores que gostam de romances policiais fora do comum
  • Fãs de narrativas fragmentadas e narradores não confiáveis
  • Quem aprecia literatura urbana, crítica e provocadora


Outros livros que podem interessar

  • Agosto, de Rubem Fonseca – outro mergulho no noir brasileiro
  • Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll – um thriller existencial
  • O Inimigo Secreto, de Agatha Christie – clássico do policial psicológico


Considerações finais

O Caso Morel é mais do que um romance policial. É uma experiência literária que desconstrói gêneros e desafia expectativas. Rubem Fonseca entrega um livro corajoso, inteligente e extremamente atual, que segue ecoando na mente do leitor muito tempo após a última página.


Você já leu O Caso Morel?

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21/05/2025

Resenha: Enclausurado (Ian McEwan)

Resenha:
Enclausurado
 (Ian McEwan)


Introdução

Ian McEwan é um mestre em criar narrativas instigantes e inesperadas, sempre com uma escrita afiada e inteligente. Em Enclausurado (Nutshell, no original), publicado em 2016, o autor mais uma vez nos surpreende ao escolher um narrador absolutamente inusitado: um feto. Isso mesmo. A história é contada do ponto de vista de um bebê ainda no útero, prestes a nascer — e que, de lá, observa (e compreende) uma trama digna de Shakespeare acontecendo ao seu redor.

Com sua prosa elegante e provocadora, McEwan transforma o absurdo em literatura sofisticada e brilhante, desafiando o leitor desde a primeira página.

Enredo

Em Enclausurado, acompanhamos um narrador muito especial: um feto de oito meses que escuta, sente e analisa tudo o que acontece do lado de fora da barriga de sua mãe, Trudy. Ela, por sua vez, está envolvida em um plano sinistro com Claude — irmão do pai do bebê — para eliminar o marido e ficar com a casa e, talvez, com a vida toda.

Sim, a estrutura remete a Hamlet — e não por acaso. McEwan se inspira na tragédia de Shakespeare para construir sua trama, mas com um toque de ironia contemporânea e crítica social. A tensão cresce à medida que o narrador, impotente, tenta entender e processar os dilemas morais e afetivos dos adultos ao seu redor — tudo enquanto ainda nem nasceu.

Análise crítica

A escolha do ponto de vista é, sem dúvida, o maior trunfo (e desafio) de Enclausurado. McEwan transforma o feto em um observador filosófico, culto, reflexivo — um pequeno Hamlet moderno, com pensamentos sobre poesia, política, vinhos e ética, mesmo sem ter visto o mundo com os próprios olhos. A princípio, essa proposta pode parecer forçada ou até cômica demais, mas a habilidade do autor faz com que funcione de maneira surpreendente.

A escrita de McEwan é como sempre precisa, refinada e irônica. Ele consegue equilibrar o humor com a tensão, e a introspecção com a crítica social. O livro levanta questões sobre traição, moralidade, livre-arbítrio e responsabilidade, tudo sob o olhar curioso e impotente de quem ainda não teve a chance de viver.

Embora breve, Enclausurado é um romance denso, engenhoso e provocador — que brinca com as fronteiras entre o real e o simbólico, o absurdo e o literário.

Conclusão

Enclausurado é uma leitura original, ousada e, ao mesmo tempo, profundamente humana. Ian McEwan mais uma vez desafia convenções narrativas e entrega uma história envolvente, que mistura tragédia clássica, humor ácido e crítica contemporânea com maestria.

Recomendo para quem busca uma experiência de leitura fora do comum, inteligente e que instiga tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Um livro curto, mas que deixa ecos duradouros.