Resenha:
A
Cachorra (Pilar Quintana)
Introdução
A Cachorra é um daqueles romances curtos que deixam marcas profundas. Escrito pela autora colombiana Pilar Quintana, o livro foi finalista do International Booker Prize e vem ganhando destaque no cenário literário internacional pela forma corajosa e direta com que aborda temas muitas vezes silenciados. Ambientado em uma vila litorânea da Colômbia, o romance é ao mesmo tempo brutal e comovente — uma exploração poderosa sobre maternidade, solidão e instintos.
Com uma escrita contida e afiada, Quintana constrói uma narrativa intensa, que mostra o quanto a natureza humana pode ser tão selvagem quanto a floresta que cerca a protagonista.
Enredo
Em A Cachorra acompanhamos a vida de Damaris, uma mulher que vive com o marido na periferia de uma pequena cidade costeira da Colômbia. Eles são pobres, solitários e carregam o peso da frustração por não terem filhos. Um dia, Damaris adota uma cadela — uma filhote magra e frágil, que ela chama de Chirli. O gesto, aparentemente banal, abre espaço para a revelação de afetos profundos, frustrações antigas e desejos inconfessáveis.
À medida que a cachorra cresce e se comporta de maneira cada vez mais imprevisível, também se intensificam as emoções de Damaris, numa espiral de amor, dor e crueldade que espelha as próprias marcas da vida que ela carrega.
Análise crítica
O que mais impressiona em A Cachorra é a capacidade de Pilar Quintana de dizer tanto com tão pouco. Com uma linguagem econômica, quase seca, a autora constrói um retrato psicológico complexo de sua protagonista, sem jamais recorrer a melodramas ou explicações excessivas. Damaris é uma mulher comum, e é justamente aí que reside a força do romance: ela poderia ser qualquer uma, vivendo uma vida invisível à margem da sociedade, lidando com frustrações que muitas vezes não têm nome.
O ambiente — a selva úmida, a casa precária, o mar sempre presente — é quase um personagem. A natureza na obra de Quintana não é bucólica, mas selvagem, crua, reflexo da própria luta interna de Damaris. A maternidade, ou a ausência dela, é tratada de forma desconcertante, com honestidade rara. Não há idealizações — apenas desejo, perda, raiva e uma ternura dura, por vezes desconcertante.
É impossível sair ileso da leitura. Quintana nos obriga a encarar o lado sombrio do afeto, da condição feminina e da miséria — sem julgamentos, apenas com uma inquietante lucidez.
Conclusão
A Cachorra é um livro que impacta mais pelo que deixa no silêncio do que pelo que diz. Pilar Quintana entrega uma obra poderosa, que se inscreve entre os grandes romances contemporâneos latino-americanos com sua voz própria e sua coragem narrativa.
Recomendo para quem aprecia histórias intensas, de leitura rápida, mas com camadas profundas de significado. Um retrato comovente da mulher que ama, perde e resiste — como pode, como consegue, como a vida permite.
Excelente livro! Adorei.
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