10/06/2025

Resenha: De Quatro (Miranda July)



Redescobrindo o prazer de se perder: uma viagem íntima em De Quatro


Introdução

Miranda July já é conhecida por sua habilidade em transformar o cotidiano em algo profundamente emocional e desconcertante. Em De Quatro, seu novo romance publicado em 2024, ela conduz o leitor por uma jornada de autodescoberta, erotismo e fragilidade com sua escrita que mistura o banal com o sublime. O livro reafirma sua presença singular na literatura contemporânea, especialmente para quem aprecia narrativas introspectivas e ousadas.

Enredo

Em uma manhã aparentemente comum, uma mulher de 45 anos — artista, esposa e mãe — parte de Los Angeles rumo a Nova York. Mas ao invés de seguir viagem, ela decide se hospedar em um motel próximo à cidade e, sem aviso, mergulha em uma pausa existencial. Longe da família e das obrigações, ela começa a explorar seus desejos mais profundos, especialmente após conhecer o jovem e carismático Davey, um funcionário de locadora de carros com aspirações artísticas.

O que segue é uma série de encontros, reflexões e redescobertas que transbordam sensualidade e inquietação, tudo isso enquanto o marido, Harris, e o filho adolescente, Sam, permanecem do outro lado de uma linha telefônica, tentando compreender sua ausência. De Quatro é menos sobre traição e mais sobre um despertar — físico, artístico e existencial.

Análise crítica

A escrita de Miranda July em De Quatro é lírica, engraçada e corajosamente íntima. A protagonista, sem nome, é ao mesmo tempo universal e singular: sua jornada ecoa o sentimento de muitas mulheres que, ao cruzarem a meia-idade, se veem encurraladas entre expectativas e desejos próprios.

O estilo fragmentado e por vezes surreal da narrativa reflete o estado emocional da personagem principal. O motel onde ela se instala se torna uma espécie de palco teatral, onde ela vive pequenos atos de liberdade e contradição. Os personagens secundários, como o enigmático Davey e a decoradora Claire, são delineados com sutileza, servindo como espelhos ou catalisadores da protagonista.

Os temas que permeiam o livro — sexualidade na meia-idade, maternidade, identidade de gênero, arte e invisibilidade — são tratados com a coragem e originalidade características da autora. Vale destacar a representação de Sam, um adolescente não-binário, cuja presença ainda que parcial dá densidade à vida familiar retratada.

Conclusão

All Fours é uma leitura provocante, sensorial e profundamente humana. Não é um livro com respostas fáceis, mas sim uma pergunta aberta sobre o que significa estar viva, especialmente quando as regras do jogo parecem já ter sido todas definidas. Para leitores que gostam de literatura que desafia convenções e mergulha no íntimo com honestidade brutal, esta é uma obra imperdível.

Se você é fã de autoras como Rachel Cusk ou Jenny Offill, prepare-se para encontrar em Miranda July uma voz igualmente potente — mas com um toque único de humor e excentricidade. De Quatro é uma celebração da complexidade feminina, em todas as suas formas e fases.

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