25/05/2025

Resenha: As Intermitências da Morte (José Saramago)

Resenha:
As Intermitências da Morte
(José Saramago)


Introdução

Imagine um país onde, de repente, ninguém mais morre. Nenhum anúncio celestial, nenhuma explicação científica. A morte, simplesmente, deixa de agir. Esse é o ponto de partida de As Intermitências da Morte, obra do premiado autor português José Saramago, que nos conduz por uma fábula filosófica e provocadora sobre a existência, os limites da vida — e do próprio sistema.

Enredo

No primeiro dia do ano, a morte resolve tirar férias. A partir daí, o país mergulha em uma crise inesperada: hospitais lotados de pacientes em estado terminal que não morrem, famílias sem saber como lidar com parentes que não partem, funerárias à beira da falência, e governos tentando encontrar soluções para o "problema da imortalidade".

Com ironia e genialidade, Saramago apresenta a figura da morte como uma personagem concreta — uma mulher que escreve cartas, monta a cavalo e até se apaixona. O livro se divide em duas partes bem distintas: uma mais satírica e social, que mostra o caos gerado pela ausência da morte; e outra mais intimista, centrada no encontro entre a morte e um violoncelista.

Análise crítica

A escrita de Saramago exige atenção: frases longas, pouca pontuação tradicional e diálogos fundidos ao texto. Mas, para quem aceita o convite, a leitura é recompensadora. O autor combina crítica social, filosofia, humor e poesia em uma narrativa que nos faz rir e refletir na mesma medida.

Um dos grandes méritos do livro é humanizar a morte. Ao torná-la personagem, Saramago nos força a repensar nossos próprios medos, rituais e dependência das estruturas que cercam a finitude. O tom irônico e sarcástico contribui para suavizar temas densos, sem jamais esvaziá-los.

Conclusão

As Intermitências da Morte é uma leitura instigante e singular. Com seu estilo inconfundível, Saramago nos entrega uma obra que provoca e emociona, ao mesmo tempo em que critica instituições e costumes. Um livro que nos lembra que, talvez, a morte tenha mais humanidade do que imaginamos — e que viver sem ela pode ser um fardo ainda maior.


 

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