Resenha:
As
Horas
(Michael
Cunningham)
Introdução
As Horas, de Michael Cunningham, é uma daquelas obras que constroem pontes entre tempos, vozes e emoções com uma delicadeza rara. Publicado em 1998 e vencedor do Prêmio Pulitzer de Ficção em 1999, o romance presta uma homenagem intensa à escritora Virginia Woolf e, especialmente, à sua obra Mrs. Dalloway. Cunningham entrelaça as vidas de três mulheres em épocas distintas, unidas por fios invisíveis de literatura, sofrimento, amor e busca por sentido — tudo isso em um único dia.
Com uma escrita elegante e melancólica, As Horas fala sobre o peso da existência e a beleza dos pequenos momentos, fazendo o leitor mergulhar fundo nas camadas da mente humana.
Enredo
A narrativa acompanha três personagens centrais:
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Virginia Woolf, em 1923, enquanto escreve Mrs. Dalloway e enfrenta seus demônios pessoais;
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Laura Brown, uma dona de casa nos anos 1950, em Los Angeles, que lê Mrs. Dalloway enquanto luta para manter as aparências de uma vida perfeita;
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Clarissa Vaughan, nos anos 1990, em Nova York, que vive um dia semelhante ao de Clarissa Dalloway, preparando uma festa para um amigo querido que está gravemente doente.
Essas três histórias se desenrolam em paralelo, como ecos umas das outras, revelando de forma sutil como os papéis que assumimos — mãe, esposa, amiga, escritora — moldam (e por vezes sufocam) nossas identidades.
Análise crítica
Michael Cunningham impressiona com sua capacidade de captar o fluxo dos pensamentos de forma tão sensível e precisa, à maneira de Virginia Woolf. Sua escrita é envolvente, lírica sem ser excessiva, e consegue transmitir a densidade emocional das personagens com uma leveza quase mágica. Cada capítulo parece uma meditação sobre o tempo, a memória, a mortalidade e a liberdade — temas universais tratados com muita intimidade.
As protagonistas são mulheres complexas, cheias de contradições, que vivem dilemas silenciosos, mas profundos. O livro se destaca por mostrar que o ordinário pode ser extraordinário: uma ida à floricultura, um beijo inesperado, a leitura de um romance — tudo é carregado de significado.
Além disso, Cunningham consegue dialogar com Mrs. Dalloway sem tornar As Horas dependente dele. Quem conhece a obra de Woolf certamente vai apreciar mais nuances, mas quem não leu ainda encontrará aqui uma narrativa completa, intensa e bela por si só.
Conclusão
As Horas é um livro para ser sentido tanto quanto compreendido. Um convite à contemplação da vida nas suas formas mais sutis — e mais dolorosas. Ao final, resta uma sensação agridoce: a de que mesmo nas rotinas mais simples, há profundezas inexploradas.
Recomendo fortemente a leitores que apreciam literatura introspectiva, que dialoga com o tempo e com os silêncios da alma. Uma leitura sensível, sofisticada e inesquecível.
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